miércoles, 28 de enero de 2009

Lição Bíblica

Mateus 14.22-36

22 Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e passaradiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões.23 E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho.Em caindo a tarde, lá estava ele, só.24 Entretanto, o barco já estava longe, a muitos estádios da terra,açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário.25 Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando porsobre o mar.26 E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaramaterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram.27 Mas Jesus imediatamente lhes disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Nãotemais!28 Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir tercontigo, por sobre as águas.29 E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre aságuas e foi ter com Jesus.30 Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando asubmergir, gritou: Salva-me, Senhor!31 E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou -o e lhe disse:Homem de pequena fé, por que duvidaste?32 Subindo ambos para o barco, cessou o vento.33 E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente ésFilho de Deus!34 Então, estando já no outro lado, chegaram a terra, em Genesaré.35 Reconhecendo -o os homens daquela terra, mandaram avisar a toda acircunvizinhança e trouxeram-lhe todos os enfermos;36 e lhe rogavam que ao menos pudessem tocar na orla da sua veste. Etodos os que tocaram ficaram sãos.

A cena do barco no meio da tempestade é a imagem da posição atual dosredimidos do Senhor. Enquanto Ele está no céu orando e intercedendo,eles têm de atravessar penosamente o agitado mar deste mundo.Moralmente, é noite: o Inimigo, incitando a oposição dos homens, atuacomo o vento e as ondas que anulavam os esforços dos remadores. PorémJesus vem ao encontro dos Seus. Sua voz familiar tranqüiliza ospobres discípulos. E a fé, apoiando-se sobre a palavra "Vem!", conduzPedro Àquele que ele ama. Repentinamente, porém, sua fé falha e elecomeça a afundar. O que aconteceu? Pedro tirou seus olhos do Mestre eos fixou na altura das ondas e na violência do vento - como se fossemais difícil caminhar com Deus em um mar agitado do que em águastranqüilas! Então Pedro clamou ao Senhor, que o socorreuimediatamente.Depois, o Senhor Jesus é recebido na comarca de Genesaré, de ondehavia sido expulso quando curou os dois endemoniados (cap. 8:34).Essa é uma figura do momento em que Seu povo, que O desprezou, Oreconhecerá e render-Lhe-á homenagem, e será liberto por Ele.

Lição Bíblica

Mateus 14.1-21

1 Por aquele tempo, ouviu o tetrarca Herodes a fama de Jesus2 e disse aos que o serviam: Este é João Batista; ele ressuscitou dosmortos, e, por isso, nele operam forças miraculosas.3 Porque Herodes, havendo prendido e atado a João, o metera nocárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão;4 pois João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la.5 E, querendo matá-lo, temia o povo, porque o tinham como profeta.6 Ora, tendo chegado o dia natalício de Herodes, dançou a filha deHerodias diante de todos e agradou a Herodes.7 Pelo que prometeu, com juramento, dar-lhe o que pedisse.8 Então, ela, instigada por sua mãe, disse: Dá-me, aqui, num prato, acabeça de João Batista.9 Entristeceu-se o rei, mas, por causa do juramento e dos que estavamcom ele à mesa, determinou que lha dessem;10 e deu ordens e decapitou a João no cárcere.11 Foi trazida a cabeça num prato e dada à jovem, que a levou a suamãe.12 Então, vieram os seus discípulos, levaram o corpo e o sepultaram;depois, foram e o anunciaram a Jesus.13 Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um lugardeserto, à parte; sabendo -o as multidões, vieram das cidadesseguindo -o por terra.14 Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela ecurou os seus enfermos.15 Ao cair da tarde, vieram os discípulos a Jesus e lhe disseram: Olugar é deserto, e vai adiantada a hora; despede, pois, as multidõespara que, indo pelas aldeias, comprem para si o que comer.16 Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se; dai-lhes, vósmesmos, de comer.17 Mas eles responderam: Não temos aqui senão cinco pães e doispeixes.18 Então, ele disse: Trazei-mos.19 E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a relva,tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, osabençoou. Depois, tendo partido os pães, deu-os aos discípulos, e estes, às multidões.20 Todos comeram e se fartaram; e dos pedaços que sobejaramrecolheram ainda doze cestos cheios.21 E os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulherese crianças.

O capítulo 11 nos mostrou João Batista na prisão. Aprendemos que ele foi jogado na prisão por Herodes (filho do rei de que fala o capítulo2). E por que motivo? João não teve medo de repreendê-lo porque elese havia casado com a mulher que seu irmão repudiou. Agora a fieltestemunha paga com sua vida pela coragem de ter dito a verdade parao rei. Sua morte ocorre em meio aos divertimentos e festas da cortereal; é o terrível salário do prazer oferecido ao cruel monarca(Tiago 5:5-6). Herodes até poderia estar entristecido naquelemomento, mas já há muito tempo ele queria a morte de João Batista (v.5), pois o ódio à verdade e àqueles que a proferem estão semprejuntos. Humanamente falando, o fim de João Batista é trágico e atéhorrível, porém, aos olhos de Deus, era o cumprimento triunfante dasua "carreira" (Atos 13:25).Podemos até imaginar o que a notícia da morte de Seu precursor causouem Jesus. Não era o anúncio de Seu próprio desprezo e de Sua cruz?Parece que Sua tristeza fez com que sentisse a necessidade de estarsó (v. 13). Porém a multidão O alcança de novo, e Seu coração, quesempre pensava nos outros, compadece-se dela. Ele realiza em favor damultidão o grande milagre da primeira multiplicação dos pães.

Lição Bíblica

Mateus 13.44-58
44 O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qualcerto homem, tendo -o achado, escondeu. E, transbordante de alegria,vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.45 O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procuraboas pérolas;46 e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o quepossui e a compra.47 O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada aomar, recolhe peixes de toda espécie.48 E, quando já está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e,assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora.49 Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarãoos maus dentre os justos,50 e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger dedentes.51 Entendestes todas estas coisas? Responderam-lhe: Sim!52 Então, lhes disse: Por isso, todo escriba versado no reino doscéus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisasnovas e coisas velhas.53 Tendo Jesus proferido estas parábolas, retirou-se dali.54 E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte quese maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estespoderes miraculosos?55 Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, eseus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas?56 Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudoisto?57 E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profetasem honra, senão na sua terra e na sua casa.58 E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.

As breves parábolas do tesouro e da pérola enfatizam duas verdadesmaravilhosas: a primeira, o grande valor que a Igreja tem paraCristo, pois Ele vendeu tudo o que tinha para adquiri-la - desistindoaté mesmo da Sua própria vida. Em segundo lugar, vemos o gozo que Eletem nela. No versículo 47, a rede do Evangelho é lançada no mar dasnações. O Senhor disse a Seus discípulos que faria deles pescadoresde homens. Eis aqui, pois, os servos trabalhando. Mas nem todos ospeixes são bons... nem todos os que se dizem cristãos são verdadeiroscristãos! É a Palavra que permite distingui-los: o bom peixe sereconhece pelas suas escamas e por suas barbatanas (Levítico 11:9-11), e o verdadeiro crente por sua armadura moral, pela suacapacidade de resistir à penetração do mal e a ser levado pelacorrente deste mundo.Da mesma forma que o Senhor encontra um tesouro nos Seus (v. 44), oversículo 52 nos mostra o tesouro que o discípulo encontra em SuaPalavra. Você considera a Bíblia um tesouro de onde se podemtirar "cousas novas e velhas"?Este capítulo termina tristemente com a incredulidade das multidões.O povo via em Jesus apenas o "filho do carpinteiro", de maneira queSua graça não pôde ser mostrada a eles.

miércoles, 21 de enero de 2009

Lição Bíblica

Mateus 12.1-21
1 Por aquele tempo, em dia de sábado, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome, entraram a colher espigas e a comer.

2 Os fariseus, porém, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado.
3 Mas Jesus lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome?
4 Como entrou na Casa de Deus, e comeram os pães da proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos sacerdotes?
5 Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo:
6 aqui está quem é maior que o templo.
7 Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.
8 Porque o Filho do Homem é senhor do sábado.
9 Tendo Jesus partido dali, entrou na sinagoga deles.
10 Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-lo, perguntaram a Jesus: É lícito curar no sábado?
11 Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço, tirando -a dali?
12 Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem.
13 Então, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu -a, e ela ficou sã como a outra.
14 Retirando-se, porém, os fariseus, conspiravam contra ele, sobre como lhe tirariam a vida.
15 Mas Jesus, sabendo disto, afastou-se dali. Muitos o seguiram, e a todos ele curou,
16 advertindo-lhes, porém, que o não expusessem à publicidade,
17 para se cumprir o que foi dito por intermédio do profeta Isaías:
18 Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo aos gentios.
19 Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz.
20 Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça vencedor o juízo.
21 E, no seu nome, esperarão os gentios.


Depois de ter oferecido o descanso da alma (cap. 11:28-29), o Senhor Jesus mostra que o descanso do sábado - uma prescrição legal do Velho Testamento - não tem mais razão de existir. Sobre esta questão do sábado, os fariseus procuram encontrar algum erro nos discípulos e depois no próprio Senhor. Mas quando isto acontece, Ele tem a oportunidade de explicar-lhes que, com a Sua vinda em graça, todo o sistema baseado na lei e nos sacrifícios foi posto de lado, e para isso cita pela segunda vez o profeta Oséias: "Misericórdia quero, e não holocaustos" (v. 7; ver cap. 9:13 e Oséias 6:6-8). De que servia a observância do quarto mandamento da lei, quando todos os outros eram violados? A misericórdia - outro atributo de Deus - também reclamava os seus direitos. E que presunção impor o respeito ao sábado Àquele que o havia instituído! De fato, enquanto reinava o pecado, ninguém podia descansar. Nem o homem, carregado com seus pecados; nem o Pai nem o Filho, que trabalhavam juntos para remover a raiz do mal bem como as suas conseqüências (João 5:16-17). Assim, sem se deixar deter pelos conselhos dos homens maus, o perfeito Servo prossegue com Sua obra. Ele a cumpre com um espírito de humildade, graça e de bondade que, segundo o profeta Isaías, deveria ter permitido que o povo de Israel O reconhecesse como o Messias prometido (Isaías 42:1-4). Aliás, o coração de Deus sempre teve bastante apreço por este tipo de espírito (veja 1 Pedro 3:4).

Graça e Paz

viernes, 16 de enero de 2009

Rugendas e Debret

A fotografia jornalística, as imagens que documentam o homem e o seu cotidiano, a cidade e o campo, a paisagem e os fatos gerados por ela, é hoje uma realidade corriqueira, que pode ser exercida por qualquer um, desde que se tenha uma objetiva na mão e observe o mundo ao seu redor. Nem sempre dispositivos como uma câmera digital, estiveram à disposição. Cabia no passado, aos desenhistas e pintores retratarem o cotidiano do mundo em que viviam, através de litografias que registravam o seu tempo e a sua época.

O Brasil colonial foi fartamente retratado por grandes pintores e desenhistas, como o francês Jean-Baptiste Debret e o alemão Johann Moritz Rugendas. Pintores e desenhistas das cenas brasileiras da primeira metade do século XIX, eles trazem a paisagem humana viva de uma colônia que elevada à categoria de reino unido, ainda não rompera com as amarras econômicas que se sustentava pela escravidão tanto dos negros africanos quanto dos indígenas nativos. Do homem à botânica, das etnias que construíam a Colônia aos animais que habitavam as suas florestas, tudo foi retratado por estes grandes desenhistas.

Aqui fazemos uma viagem ao Brasil colônia do século XIX, com Debret e Rugendas (autor da gravura acima, “Missa de Nossa Senhora da Candelária em Pernambuco”, da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”), mergulhando em um passado que não mais existe, mas mesmo distante, deixou suas marcas indeléveis na paisagem humana e nos costumes da nação que se construiu a partir desta época.


Jean-Baptiste Debret e a Missão Artística Francesa


Jean-Baptiste Debret (1768-1848), pintor e desenhista nascido em Paris, integrou a Missão Artística Francesa, chegando ao Brasil em 1816, ao lado do arquiteto Grandjean de Montigny. A missão aconteceu por solicitação de dom João VI, sendo planejada por António Araújo e Azevedo, o conde da Barca. O objetivo da missão era, entre outros, organizar a criação da Academia de Belas Artes.

Durante a época que esteve no Brasil, de 1816 a 1931, Debret, com os seus traços do neoclassicismo, retratou com detalhes históricos únicos o Brasil de então. Da corte portuguesa no país à corte instalada pelo proclamador da independência, dom Pedro I, nada passou despercebido na obra de Debret. Quando retornou à França, publicou, entre 1834 e 1839, “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil” (Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil), que documentava os aspectos do homem, da natureza e da sociedade brasileira.


O Brasil de Debret


As gravuras aqui mostradas têm textos do próprio Jean-Baptiste Debret, extraídos de “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”.


Charruas Civilizados – Jean-Baptiste Debret – Da obra “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”. – “Em uma das províncias meridionais do Brasil… existe uma nação de indígenas completamente selvagens denominados Charruas, que ocupam uma vasta área de pântanos e bosques. Vivem em meio a manadas de cavalos selvagens, de que comem a carne, preferindo-a a qualquer alimento.

… É somente na província de São Pedro e de Espírito Santo que se encontra grande número de Charruas civilizados, a maior parte originários do Paraguai. Andam quase sempre a cavalo, envolvidos pelo poncho… e trazem sempre uma grande faca à cintura, ou simplesmente colocada em uma das botas. O comércio de animais é a sua principal ocupação; e freqüentemente, sob o nome de peões, servem de guias aos viajantes que percorrem estas províncias. Não menos intrépidos a pé que a cavalo, eles não temem atacar a onça, o braço esquerdo envolvido pelo poncho com toda precaução, e coberto por um pedaço de couro. Assim preparado ao combate, e tendo na mão direita a sua faca, ele vai ao encontro do animal e o desafia. O caçador avança o braço esquerdo, e quando a onça arremete, ele lhe mergulha a faca no peito e a mata de um só golpe. Este gênero de combate lhes é tão familiar que estão sempre dispostos a proporcionar soberbas peles de onça pela quantia de cinco francos (um patacão); é uma especulação que eles reservam para fazer frente às despesas com suas diversões, pouco variadas na verdade, pois consistem em passar grande parte de seu tempo nas tavernas fumando, bebendo aguardente e jogando cartas, prazer que termina quase sempre em golpes de faca. Embora naturalmente inclinados ao roubo e ao assassinato, eles são de uma fidelidade a toda prova, caso tenham sido contratados para a escolta de um viajante.”


Retour à la Ville de Nègres Chasseurs – Jean-Baptiste Debret – Da obra “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”. – “É sobretudo na roça que são criados os negros que se tornam caçadores de profissão. É lá que, devendo desde jovens acompanhar os comboios, ou em companhia somente de seu senhor, em longas e penosas viagens, eles vão sempre armados de um fuzil, tanto para sua segurança pessoal quanto para obter alimento… Este gênero de vida torna-se uma paixão a tal ponto dominante entre os negros da roça, que ele não aspira à liberdade senão para penetrar nas florestas como caçador profissional, e se dar sem reservas às atrações de uma inclinação que serve ao mesmo tempo a seus interesses. Então, livre, longe da opressão do chicote, o direito de pensar faz dele um fornecedor tão hábil quanto o homem branco, de quem conhece os gestos; e, perfeitamente a par do valor de uma peça fina que se encontra misturada à caça grossa que ele traz à cidade, ele vai oferecê-la de preferência ao cozinheiro de uma grande casa, que o paga de modo satisfatório; assim, aliando a inteligência ao esforço, freqüentemente ele torna sua profissão muito lucrativa.”


Selvagens Civilizados Soldados Índios da Província de Curitiba Conduzindo Prisioneiros Indígenas – Jean-Baptiste Debret – Da obra “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”. – “Observa-se na província de São Paulo, Comarca de Curitiba, as aldeias de Itapeva e Curros, cuja população inteira se compõe de caçadores indígenas, empregados pelo governo brasileiro para lutar contra os selvagens e os expulsar pouco a pouco dos locais próximos às terras por onde os cultivos começam a avançar…

Estes soldados aguerridos… dormem sem acender fogo na floresta, para que sua presença não seja percebida pelos selvagens que eles procuram surpreender… Cada ano, numa certa época, o governo lhes dá munições para a campanha; uma vez em marcha, eles não retornam antes de haver esgotado suas provisões de guerra; então, repousam até a campanha seguinte. Durante este intervalo eles cultivam suas terras e servem de guia aos viajantes estrangeiros… Sua tática é atacar os ranchos dos selvagens, matar os homens e trazer prisioneiras as mulheres e crianças. Selvagens até época recente, eles mostram-se mais aptos que os europeus a empregar as artimanhas necessárias a este gênero de expedições.”


Múmia de um Chefe Coroado – Jean-Baptiste Debret – Da obra “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”. – “Segundo a opinião de um escritor muito respeitado, os selvagens do Brasil chamados Coroados seriam os antigos Goitacazes. Este nome de Coroados lhes foi primitivamente dado pelos portugueses por causa do penteado de seus chefes, que efetivamente cortam o cabelo de modo a deixar uma espécie de coroa isolada no alto da cabeça; no entanto, muito deles trazem os cabelos caídos sob as espáduas…

Os Coroados tinham antigamente o costume de enterrar seus chefes de uma maneira particular: os restos mortais deste chefe reverenciado eram encerrados em um grande vaso denominado camucis, enterrado em seguida profundamente junto a uma grande árvore…

Estas múmias, revestidas de suas insígnias, estão perfeitamente intactas, e são sempre colocadas, em sua urna funerária, de modo a conservar a atitude de um homem sentado sob seus calcanhares, posição habitual do selvagem quando em repouso. Pretendiam, por este meio, fazer uma alusão à morte, este eterno repouso?”


Rugendas, Vindo com a Expedição do Barão de Langsdorff


O desenhista Johann Moritz Rugendas (1802-1858), nascido em Augsburg, chegou bem jovem ao Brasil, em 1921, vindo como membro da expedição do Barão de Langsdorff, cientista e diplomata russo.

No Brasil, Rugendas logo deixou a expedição e passou a viajar por sua própria conta, percorrendo de 1822 a 1825 várias partes do país, dedicando-se a retratar os mais variados aspectos da vida da nação que se formava depois da independência em relação a Portugal. Rugendas registra justamente o momento de transição entre o Brasil colônia e o Brasil nação independente.

Os registros de Rugendas do cotidiano brasileiro, formaram uma coletânea de cem trabalhos publicada em Paris, em 1835, sob o título de “Voyage Pittoresque au Brésil” (Viagem Pitoresca ao Brasil).


O Brasil de Rugendas


É da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”, que se extraiu os textos que ilustram as imagens aqui apresentadas, escritos por Koster, citados por Rugendas.


Nègres a Fond de Calle (Negros no Porão de Navio) – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”. – “Embarcam-se, anualmente, cerca de 120 000 negros na costa da África, unicamente para o Brasil, e é raro chegarem ao destino mais de 80 a 90 mil. Perde-se, portanto, cerca de um terço durante a travessia de dois meses e meio a três meses… Ao chegarem à fazenda, confia-se o escravo aos cuidados de um ou outro mais velho e já batizado. Este o recebe na sua cabana e procura fazê-lo, pouco a pouco, participar de suas ocupações domésticas; ensina-lhe também algumas palavras em português.

E somente quando o novo escravo se acha completamente refeito das conseqüências da travessia que se começa a fazê-lo tomar parte nos trabalhos agrícolas…”


Habitações de Negros – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”. – “Enviam-se os escravos logo ao nascer do sol… Às oito horas concede-se-lhes meia hora para almoçar e descansar. Em algumas fazendas fazem os escravos almoçarem antes de partirem para o trabalho, isto é, imediatamente depois do nascer do sol. Ao meio dia eles têm duas horas para o jantar e o repouso e, em seguida, trabalham até as seis horas.

As mulheres casam-se com catorze anos, os homens, com dezessete e dezoito; em geral incentivam-se esses casamentos. As jovens mulheres participam do trabalho do campo e aos recém-casados se dá um pedaço de terra para construir sua cabana e plantar, por conta própria, em certos dias… Nos domingos, ou dias de festa, tão numerosos que absorvem mais de cem dias por anos, os escravos são dispensados do trabalho por seus senhores e podem descansar ou trabalhar para si próprios… Assim, um dos mandamentos da Igreja Católica, tão amiúde censurado como abusivo e pernicioso, tornou-se um verdadeiro benefício para os escravos, e quando o Governo português achou que devia atender às necessidades do progresso, tomando medidas para diminuir o número de festas, a inovação não alcançou a aprovação dos homens mais esclarecidos do Brasil. Diziam estes, com razão, que o que podia ser benefício para Portugal não passava de crueldade para com os escravos. Que responder a isso, senão que essa contradição já constitui uma prova do absurdo de todo o sistema? Como quer que seja, as cabanas dos escravos contêm mais ou menos tudo que neste clima pode ser considerado necessário. Por outro lado, eles possuem galinhas, porcos, às vezes mesmo um cavalo ou uma besta, que alugam com vantagem porque a alimentação nada lhes custa.”


Guerrilhas – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”. – “Os relatórios dos mais antigos visitantes, como Jean Léry, Hans Staden, etc., demonstraram que, na época da conquista, os habitantes primitivos do Brasil estavam num estágio de civilização mais elevada que aquele em que os vemos hoje. A razão principal dessa decadência está, sem dúvida, nas relações com os portugueses… os índios não são homens em estado natural e não são selvagens, mas sim homens que retrocederam ao estado de selvageria, porque foram rechaçados violentamente do ponto a que haviam chegado…

…limita-se o governo a instalar, nos lugares mais expostos do país, ou naqueles em que a estrada atravessa a floresta, quartéis ou presídios; são geralmente simples postos, com alguns soldados, sob o comando de um suboficial…

Quando os índios praticam algum ato de hostilidade em determinado lugar, ou quando, como acontece, atacam de surpresa um desses postos, para puni-los e amedrontá-los faz-se uma entrada. Reúnem-se alguns postos, sob o comando do capitão do distrito e dá-se caça aos índios, atacando-os em toda parte onde se encontrem. Procura-se de preferência surpreendê-los nos acampamentos e, quando descobertos, são cercados durante a noite, e ao clarear do dia faz-se fogo, de todos os lados, contra os índios ainda adormecidos. Assim surpreendidos, os selvagens tentam escapar pela fuga. Em regra geral, os soldados massacram tudo que lhes cai nas mãos e só poupam as mulheres e crianças muito raramente, e assim mesmo quando cessa toda a resistência, a qual é, não raro, obstinada.“


Fête de Ste. Rosalie, Patrone dês Nègres” (Festa de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira dos Negros) – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”. – “No mês de maio, os negros celebram a festa de Nossa Senhora do Rosário. É nesta ocasião que têm por costume eleger o Rei do Congo, o que acontece quando aquele que estava revestido dessa dignidade morreu durante o ano, quando um motivo qualquer o obrigou a demitir-se, ou ainda, o que ocorre às vezes, quando foi destronado pelos seus súditos. Permitem aos negros do Congo eleger um rei e uma rainha de sua nação, e essa escolha tanto pode recair num escravo como num negro livre. Este príncipe tem, sobre seus súditos, uma espécie de poder que os brancos ridicularizam e que se manifesta principalmente nas festas religiosas dos negros como, por exemplo, na de sua padroeira Nossa Senhora do Rosário…

… Às onze horas fui à igreja com o capelão e, não demorou muito, vimos chegar uma multidão de negros, ao som dos tambores. Homens e mulheres usavam vestimentas das mais vivas cores que haviam encontrado. Quando se aproximaram, distinguimos o Rei, a Rainha, o Ministro de Estado. Os primeiros usavam coroas de papelão, recobertas de papel dourado… As despesas da cerimônia deviam ser pagas pelos negros, por isso haviam colocado na igreja uma pequena mesa à qual estavam sentados o tesoureiro e outros membros da irmandade negra do Rosário, os quais recebiam os donativos dos assistentes dentro de uma espécie de cofre.”


Chasse au Tigre (Caça à Onça) – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”. – “O arco e a flecha são as armas principais dos índios. São muito mais compridos do que as de outros selvagens, embora a maior parte dos índios da América Meridional use também arcos e flechas muito compridos. A lança e o laço se encontram apenas em algumas tribos que, depois do descobrimento, adotaram o cavalo para combater. E somente nessas tribos foram os arcos e as flechas encurtados. O arco dos brasileiros tem muitas vezes cinco, seis e mesmo sete pés de cumprimento…

Há três espécies de flecha. Uma de ponta larga, feita em geral de bambu tangaraçu; é dura e muito aguçada. Para aumentar ainda a força da penetração, a ponta é encerada e a taquara, também encerada ao fogo, torna-se tão dura quanto o chifre. Como na taquara a ponta é oca, os ferimentos que ela produz sangram fortemente. Por isso é empregada, principalmente, na guerra e na caça de grandes animais.”