jueves, 3 de abril de 2003

A Bíblica ou a Tradição ?

A Bíblica ou a Tradição ???




O Fundamento Da Teologia Católica.

Mesmo de relance poder-se-á constatar ser a maior parte das
doutrinas da dogmática católica procedente de fonte diversa da
Bíblia.

Suas informações relativas aos sacramentos, a mariologia, a sucessão
e colegialidade dos bispos, a infalibilidade e primado do papa, à
sua organização eclesiástica, ao purgatório e sufrágio dos mortos,
ao culto dos santos, alicerçada, aliás, na pretendida sucessão
apostólica dos seus bispos?

Essa fonte diferente é chamada de TRADIÇÃO.

E o que seria do catolicismo sem os sacramentos? Sem a mariologia?
Sem a sua organização eclesiástica alicerçada, aliás, na pretendida
sucessão apostólica dos seus bispos?

O que seria do catolicismo sem o purgatório e o sufrágio dos mortos?

O que seria do catolicismo sem o culto dos santos?

O que seria, enfim, do catolicismo sem a TRADIÇÃO que invalida a
Palavra de Deus?

Em conseqüência, é impossível conhecer-se a dogmática católica sem o
esclarecimento do conceito de sua TRADIÇÃO, vocábulo retirado
etimologicamente do verbo latino TRANSDO, que quer dizer: entrego ou
trans­mito qualquer coisa. Ë a transmissão de suas doutrinas de
geração em geração, ou a própria doutrina recebida por esta via.

Os Teólogos católicos, na esteira do Concilio Tridentino, definem a
TRADIÇÃO COMO O CONJUNTO DE DOUTRINAS REVELADAS REFERENTES À FÉ E À
MORAL, NÃO CONSIGNADAS NAS ESCRITURAS SA­GRADAS, MAS ORALMENTE
TRANSMITIDAS POR DEUS À IGREJA (Sessão IV, de 8 de Abril de 1546,
sob o pontificado de Paulo III).

Pelo próprio fato de haver o catolicismo engendrado outra fonte de
Revelação Divina que não a Bíblia, demonstra o seu menosprezo a
esta. Conseqüentemente, se ele quisesse agora aceitá-la com todo o
seu valor de único e exclusivo depósito de fé, deveria, alto e bom
som, proclamar sua repulsa à Tradição, pantanal da congérie de suas
aberrações.

O Concilio Vaticano II, porém, e em que pesem suas propostas
ecumenistas, «seguindo as pegadas dos Concílios Tridentino e
Vaticano 1!» (Constituição Dogmática «Dei Verbum>>, promulgada na
sessão IV do Concílio Vaticano II, em 18 de Novembro de 1965, sob o
pontificado de Paulo VI - § 1), deliberou confirmar a atitude
católica perante o alicerce de suas doutrinas.

Realmente no § 9 dessa sua Constituição promulga­da nas vésperas do
seu encerramento, se lê: «... A SA­GRADA TRADIÇÃO.., transmite
integralmente aos sucessores dos Apóstolos a Palavra de Deus
confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos para
que, sob a luz do Espírito de Verdade, eles em sua pregação,
fielmente, a conservem, exponham e difundam».

Por conseguinte, a Tradição se apresenta como outro manancial de
informes dentro da própria Revelação Divina. Manancial anterior,
mais completo, mais claro três mais seguro do que as Escrituras.

E sob este aspecto que o Concilio Vaticano II lembra: Pela mesma
Tradição.., as próprias Sagradas Escrituras são nela cada vez melhor
compreendidas e se fazem sem cessar atuantes» (Constituição
Dogmática «Dei Verbum — § 8).

Reconhecem os teólogos católicos haver, às vezes, coincidência em
algum ponto doutrinário entre a Bíblia e a Tradição, no caso,
chamada INESIVA, como por exemplo, a ressurreição de Cristo.

A TRADIÇÃO EXCEDENTE ou CONSTITUTIVA, o verdadeiro arsenal da
dogmática católica, abrange todas as doutrinas não encontradas na
Bíblia e que se constituem em totalidade na dogmática católica.

Ë evidente que esta Revelação Oral, posteriormente pôde conservar-se
e propagar-se por escrito. Essa escrita, distinta das Sagradas
Escrituras, encontra-se, por exemplo, nas obras de escritores
eclesiásticos do catolicismo primitivo.

E julgadas como um mesmo e integro depósito da Revelação, o Concilio
Vaticano II, cumprindo o seu de­sígnio de seguir as pegadas dos
Concílios de Trento e Vaticano 1, exige o mesmo sentimento de
reverência e piedade para a Tradição e para a Bíblia: «ambas
(Escritu­ra e Tradição) devem ser recebidas e veneradas com igual
sentimento de piedade e reverência» (Constituição Dogmática «Dei
Verbum» — § 9).

Destarte, assim como o cristão, reverentemente, se vale das
Escrituras para argumentar as razões de sua fé, o católico
esclarecido — coisa raríssima! — busca os motivos de suas crenças na
Tradição.

Certa feita vi uma discussão entre um pastor evangélico e um
católico, por sinal congregado mariano, sobre a assunção corporal de
Maria. O pastor queria do seu controversista um texto bíblico onde
se pudesse ao menos vislumbrar o dogma debatido. É natural que não
se poderá encontra-lo. Mas, a disputa ficou sem resu1tado porque
cada um se baseava em terreno diferente. E o mesmo ardor do
evangélico pela Bíblia se repetia no mariano pela Tradição.

De maneira alguma, neste último Concilio, o catolicismo abriria mão
desta fonte de suas doutrinas a menos que concordasse em deixar de
ser catolicismo.

Aliás, é fácil depreender-se o porquê do seu maior interesse pela
Tradição considerada por ele como regra de fé mais importante por
ser anterior, mais ampla e mais clara do que a Bíblia.

Ela é elástica, amoldável e acomodatícia. Sacia-lhe melhor a sede de
sofismar!

Se bem que recomende «igual sentimento de piedade e reverência» para
a Escritura e para a Tradição, a verdade é que esta lhe merece mais
atenções porque as próprias Sagradas Escrituras são nela (Tradição)
cada vez melhor compreendidas» (Constituição Dogmática «Dei Verbum» —
§ 8).

Destaque-se a seguinte observação: estas expressões que sobrelevam a
Tradição em desapreço da Bíblia, não são do Concilio de Trento,
realizado no século XVI, que, como movimento de contra-Reforma,
objetivou elevar a& máximo o valor de sua principal fonte
doutrinária. Estas expressões são recentíssimas. São deste último
Concilio Ecumênico de cujos interesses se destacam os acenos de
convites aos "irmãos separados» (?!)

Em favor das Sagradas Escrituras, como depósito de fé, militam
abundantíssimos argumentos. O catolicismo, porém, se vê em. palpos
de aranha para argumentar em defesa de sua tradição.

Sua argumentação no caso é tão raquítica que causa compaixão. Ë mais
fraca do que o café muito fraquinho.

Conta se que foi feito um café muito fraco, mas tão fraquinho que
não tinha ânimo e coragem nem para sair do bule.

Os argumentos em que o catolicismo baseia a sua Tradição são
anêmicos em extremo e pasmam a qualquer pessoa de inteligência
mediana.

Dentre eles vamos considerar o seguinte:

Antes de Moisés nada havia escrito. Deus se revelava lentamente e
sua doutrina foi transmitida oralmente. Só muito mais tarde veio a
Escritura.

Desde a origem do mundo até Moisés, a primitiva revelação de Deus,
verbalmente dada aos homens, foi conservada por sucessão entre os
patriarcas e não em escrituras.

Já se vê, cavilam os teólogos católicos, que o próprio Moisés, ao
escrever o Gênesis precisou abeberar-se na Tradição, esse primeiro e
genuíno canal da Revelação Divina.

Foi na Tradição que o autor do Pentateuco colheu informes sobre a
criação do mundo ex nihilø e a queda do primeiro homem, sobre a
propagação do gênero humano e sua geral corrupção, sobre o dilúvio,
os descendentes de Noé e a confusão das línguas, sobre a vocação de
Abraão e sua empolgante biografia, sobre Isaque e as peripécias dos
filhos de Jacó, sobre José e a ida dos seus irmãos para o Egito.

Para o catolicismo, na conformidade de sua argumentação e esquecido
de que Moisés fora divinamente inspirado e assistido, o primeiro
livro da Bíblia, o Gênesis, nada mais é do que a Tradição estampada
em letras de forma.

A BIBLIA DESDE OS PRIMÓRDIOS.



Todos os acontecimentos relatados em Gênesis se de­ram séculos antes
de serem escritos por Moisés, o Autor divinamente inspirado do
Pentateuco.

A transmissão oral ou escrita de fatos históricos não se constitui
em fonte de Revelação Divina!

Não negamos haver Moisés colhido informes aqui e ali, com uns e
outros. Mas, a esta simples verificação de fatos históricos atribuir-
se uma importância de fonte de Revelação é negar ou pelos menos
depreciar a inspiração divina da primeira parte do Velho Testamento.
O passo é muito grande. Ë um salto mortal de causar arrepios!

A simples leitura de Gênesis demonstra que Deus não confiou na
Tradição Oral.

Abraão é o primeiro dos patriarcas e vocacionado para formar uma
grande nação. <
te-ei fecundo extraordinariamente, de ti farei nações, e reis
procederão de ti» (Gên. 17:6). Foi ao estabelecer este concerto com
o patriarca que Deus lhe mudou o nome de Abrão para Abraão, que quer
dizer pai de muitas nações ou duma multidão. «Dar-te-ei e à tua
descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã,
em possessão perpétua, e serei o seu Deus» (Gên. 17:8).

Da mesma maneira como Deus se revelara, em circunstâncias especiais
diretamente a Adão e Noé, e inter­ferira também diretamente em certos
episódios, como por ocasião da queda do homem, do dilúvio, da
confusão das línguas, agora interfere diretamente e vocaciona
Abraão, estabelecendo um concerto especial, para ser o pai de um
povo peculiar e santo de cujo seio sairia o Redentor.

Isaque é o segundo personagem da estirpe da promessa e tem dois
filhos: Esaú e Jacó, sendo o terceiro elo nessa corrente de formação
do povo eleito.

A Jacó disse o seu pai Isaque, lembrando-se da bênção do
Senhor: «Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua
mãe, e toma lã por esposa uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe.
Deus Todo-Poderoso te abençoe e te faça fecundo, e te multiplique
para que venhas a ser uma multidão de povos; e te dê a bênção de
Abraão, a ti, e à tua descendência contigo, para que possuas a terra
de tuas peregrinações, concedida por Deus a Abraão (Gên. 18:2-4).

`Acaso não seria suficiente essa tradição oral da promessa e da
bênção? E uma tradição muito curta, apenas entre Abraão e Jacó,
mediando somente Isaque!

O Senhor, porém, não aceita a tradição oral como fonte ou mesmo
sustento de sua Revelação e interfere diretamente. E na visão de
Betel, Jacõ ouve o Senhor:

Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque. A terra
em que agora estás deitado, eu ta darei, a ti e à tua descendência.
A tua descendência será como o pó da terra; estender-te-ás para o
Ocidente, e para o Oriente, para o Norte, e para o Sul. Em ti e na
tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra» (Gên.
18:13-14).

A mesma Promessa agora repetida diretamente pelo Senhor a Jacó e não
através de Tradição alguma! — quase com as mesmas palavras fora dita
ao seu ancestral mais próximo, a Abraão, logo após separar-se de Ló
(Gên. 13:14-16).

E a vida de Jacó é toda pontilhada de interferências diretas de
Deus! Seu nome também é mudado no incidente de Peniel quando lutou
com o anjo até prevalecer e ser abençoado. Passou-se a chamar
Israel, pois como príncipe lutara com Deus e com os homens. E
prevalecera! (Gên. 32:28).

No futuro, Israel seria o nome do povo eleito do Senhor!

Dentre os doze filhos de Israel, destaca-se José, que, em
circunstancias memoráveis, foi para o Egito (Gên. 37:41), onde mais
tarde recebeu seu velho pai e seus ir­mãos acossados pela fome (Gên.
42-50).

Mesmo para esta viagem, o servo do Senhor esperou a Sua manifestação
direta. «Eu sou Deus, o Deus do teu pai; não temas descer para o
Egito porque lã eu farei de ti uma grande nação» (Gên.46:3).

Deus a repetir a mesma Promessa!

Em 1706 antes de Cristo é que, no Egito, se fixou esse povo peculiar
de Deus, cumprindo-se assim a Palavra do Senhor a Abraão (Gên.
15:13).

Não se pense que era um povo grande em número.. Em Gên. 46:1-27 são
relacionados os nomes dos membros desse pequenino povo composto
apenas de setenta pessoas.

Setenta pessoas! Filhos, noras e netos do velho patriarca!

Nos primeiros 126 anos de sua permanência no Egito, esse povo muito
prosperou e cresceu. E ..• os filhos de Israel foram fecundos,
aumentaram muito e se multiplicaram... (Êx. 1:7). Os setentas se
multiplicaram em dois milhões!

Levantando-se, entretanto, uma nova dinastia, mu­dou-se a situação e
esse povo vocacionado para urna incumbência especial, cativo, passou
a sofrer duras peripécias durante mais de um século, quando Deus
promoveu sua libertação suscitando Moisés. Fala-lhe da sarça ardente
o Senhor: «Certamente tenho visto a aflição do meu povo... (Ëx.
3:7). ... Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até
Mim... »(Ex.3:9).

Irá Deus permitir o retorno na conformidade de Gên.15:16.

Como a recordar a Sua Promessa, o Senhor se identifica: Eu sou o
Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de
Jacó» (Êx. 3:6,15,16). E aquele povo que é o Seu, Ele chama: «meu
povo» Ëx. 3:9,10,11,13,14,15). Ë a lembrança da Promessa de Deus a
Moisés! Não mandou Moisés consultar os anciãos sobre ela. Mencionou-
a diretamente!

E o argumento da teologia católica em favor de sua Tradição?

Já está por terra!

Prossigamos em nossa consideração grata a Deus por sua maravilhosa
Revelação contida na Bíblia em nosso beneficio.

Nesta conjuntura da História de Israel, o Senhor suscita em Moisés o
grande líder para libertar o Seu povo, levando-o à Canaã Prometida,
a Palestina, o centro geográfico do mundo de então para de lá, como
de centro irradiador, difundir a Sua Palavra e fazer cumprir o Seu
Plano Salvífico.

As peripécias da jornada, os desalentos dos tímidos e as murmurações
dos descontentes não puderam embargar aquela nação de contemplar, na
maior de todas as epopéias da História, as manifestações palpáveis
do Poder de Deus.

As pragas do Egito, a libertação memorável do seu cativeiro, a
passagem espetacular do Mar Vermelho, a abundância de maná, o vôo
razante das codornizes, o jorrar abundante da água no deserto de
Sim, a vitória surpreendente sobre os amalequitas, tudo empolgava os
filhos de Israel, quando, exatamente no instante de seu sucesso na
campanha dos amalequitas, pela primeira vez, Deus ordena a Moisés:
ESCREVE ISTO PARA MEMÓRIA NUM LIVRO» (Ëx. 17:14).



Por que o Senhor não confiou na Tradição Oral?

Se antes, quando se tratava de Sua Promessa não confiou na Tradição
Oral, mas diretamente Ele falou aos patriarcas desde Abraão, não
seria agora ao separar o Seu povo, tirando-o do Egito, que iria
confiar Sua Lei e Sua Revelação à Tradição Oral!

«ESCREVE ISTO PARA MEMÓRIA NUM LIVRO»!!!



Recorde-se à dificuldade imensa que envolvia a arte de escrever
antes da descoberta da imprensa por Gutenberg em meados do século
XV.

Naqueles remotíssimos tempos o instrumento apto para ensinar e
legislar era a palavra oral.

Este veículo do pensamento teve sua ampla aplicação no setor da
religião. Compulsando-se a História das religiões mais antigas,
verifica-se que elas dependiam de um patrimônio doutrinário
transmitido de geração a ge­ração por via meramente oral. Em certos
sistemas religiosos os fiéis se negaram sempre a escrever alguns dos
seus preceitos mais caros.

Ë de se observar, por• exemplo, a fórmula freqüentíssima: «Eu
ouvi... » adotada na primitiva religião chinesa, da qual procedem o
taoísmo e o confucionismo.

Chama a atenção para o nosso caso ainda mais a circunstância assaz
agravante de estar o povo de Israel acampado no deserto, com
dificuldades humanamente instransponíveis para executar a arte da
escrita.

A História das religiões dos homens revela o apreço à Tradição Oral
por ser esta mais fácil em amoldar-se aos seus capricho4s
circunstanciais.

São notáveis os inúmeros pontos de contato do catolicismo com essas
religiões, inclusive o seu apego a esse veiculo de transmissão
doutrinária e depósito dos seus ensinos.

Em condições dignas de nota, surgiu a Escritura Santa!

Anteriormente Deus se revelara a pessoas individuais. A Adão e Eva.
A Noé. A Abraão. A Jacó. Falava-lhes! Interferiu em acontecimentos!
Mas, quando se revelou ao Seu Povo já separado dos egípcios, à
coletividade, mandou escrever.

A marcha triunfante e cheia de percalços continuou.

Acampou-se o povo ao sopé do Monte de Sinai em circunstanciais
solidíssimas. «Todo o Monte do Sinal fumegava, porque o Senhor
descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como a fumaça de uma
fornalha, e todo o monte tremia grandemente» (Ëx. 19:18). E «Deus
falou... » Ëx. 20:1). Proferiu o Seu Decálogo. Apresentou as Suas
Leis acerca dos servos, dos homicidas, da propriedade, da
imoralidade, da idolatria, dos que amaldiçoam os pais ou ferem
qualquer pessoa, do testemunho falso e das injustiças, do descanso e
das três festas. Não se limitou Moisés relatá-las ao seu povo (Ex.
24:3), mas, «escreveu todas as palavras do Senhor» (Ëx. 24:4).

«... Erigiu um altar ao pé do monte (Êx. 24:4)... e tornou o livro
da aliança, e o ~eu ao povo, e eles disseram: tudo o que falou o
Senhor, faremos, e obedeceremos» (Êx. 24:7).

Note-se: Moisés ouviu. Em seguida relatou ao povo. E depois
ESCREVEU. E, então, leu ao povo o que ha­via escrito no livro da
aliança.

Por que?

É porque o Senhor não queria TRAIÇÃO ORAL alguma! A Tradição é
traição contra a fidelidade!

ACABEMOS COM OUTRO ARGUMENTO FALSO!



Este segundo arrazoado na pretendida defesa da Tradição católica é
uma repetição do anterior tendo, porém, como cenário outras
circunstâncias episódicas.

Tão raquítica é a sua argumentação que a teologia católica muda
apenas o cenário e a roupagem, enquanto o esqueleto do sofisma
continua o mesmo.

A referida teologia, contudo, é traída no seu próprio desespero à
falta de argumentos.

Alega que Cristo nunca mandou escrever seus ensinos e mandamentos e
nada deixou escrito. Aos Apóstolos apenas determinou pregassem pelo
mundo como testemunhas dele e da doutrina por eles aceita e
proclamada.

Em endosso deste arrazoado e no objetivo de confundir os menos
avisados, invoca as seguintes pericopes:

«... e, a medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos
céus» (Mt. 10:7).

PREGAI! Não mandou escrever!!!.

«Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas
as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo; ensinando­os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado.
E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século»
(Mt. 28:18-20).

ENSINAI! Não mandou escrever!!!

«E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda
criatura» (Mc. 16:15).

PREGAI! Não mandou escrever!!!

Sinto calafrios de compaixão por ver esse pobre argumento tão
tísico.

Coitados dos católicos! Com seus teólogos assim ignorantes e de
consciência encroada!

Jesus nunca mandou escrever?

Em Apocalipse encontramos dez oportunidades em que o Senhor manda
escrever: — 1:11,19;2:1,8,12,18;3:1,7,14 ;21:5.

ESCREVE! Ë assim com o verbo no modo imperativo.

Existem excelentes oculistas e óticas especializadas onde os
reverendos teólogos podem resolver o seu problema de miopia. A não
ser que seu germe seja má vontade. Ai a cegueira consciente é
incurável.

Prossegue, todavia ,o desenvolvimento da argumentação esdrúxula!

Os próprios Apóstolos ex professo nunca escreveram como se
estivessem desincumbindo uma obrigação própria e especial, embora
houvessem executado a contento a sua missão. Alguns, apenas em
ocasiões esporádicas ou oportunidades ocasionais consignaram alguma
coisa por escrito, mas sem a intenção de transmitir por escrito toda
a Revelação e sim no propósito apenas de inculcar ou explicar alguma
Verdade, ou forçados pelos pedidos dos fiéis ou dos bispos — «sed
vel ad veritatem aliquam ma­gis inculcandam aut explicandam, vel
precibus fídelium aut episcoporum compulsi» (J.M. Hervé De Vera Re­
ligione De Ecclesia Christi — De Fontibus Revelationis

1929 — Paris — pág. 531).

É mesmo de se tirar o chapéu!

Precisa-se de muita coragem para se embarcar nessa canoa doutrinária
de casco tão podre! Tamanha coragem como a disposição de se agarrar
um leão à unha. Leão vivo!

Engolfados nesse trernendal dogmático não se apercebem os teólogos
católicos que o seu arrazoado em defesa da Tradição labora contra
ela? Pois que, se precisaram os Apóstolos escrever para inculcar ou
explicar a doutrina cristã esta desmerecida a Tradição Oral.

E de fato, João da ênfase ao seu objetivo escrevendo: «... para que
creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em Seu Nome» (João 20:31).

Paulo, ao escrever aos coríntios, destaca: «... as coisas que vos
escrevo são mandamentos do Senhor» (1 Cor. 14:37). E aos
filípenses: «Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é
segurança para vós» (Fil. 3:1).

Paulo não se aborrece de escrever as mesmas coisas... Por que? Para
SEGURANÇA dos fiéis!

Não se fiava da Tradição nem a curto prazo e nem a curta distância.

Ele havia pregado aos filípenses e por medida de segurança
doutrinária, escreveu-lhes.





Para não perder a desenvoltura no meio de tanta coincidência, o
teólogo católico, com ares de muito entendido, invoca o verso 25 do
capitulo 21 do Evangelho segundo João: «Há, porém, ainda muitas
outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por
uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam
escritos>>.

Até em cartas pastorais os «amantíssimos ordinários>> invocam este
versículo.

Quando Deus me despertou para o exame consciencioso de sua Palavra,
observei nesse passo escriturístico essa informação joanina.

O Autor sacro, constatei logo, se refere a coisas que Jesus fez, a
fatos, a prodígios e não a doutrinas.

Fiquei, porém, mais desapontado ainda quando, confrontando,
verifiquei o verso 31 do capitulo 20 do mesmo Livro Sagrado, que é o
bastante, outrossim, para se acabar com a alegria dos teólogos
católicos, acrobatas do sofisma <
para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em Seu Nome».

Insiste maldosamente o desesperado teólogo. Reconhece de sobejo que,
destruída a Tradição Oral, como fonte de Revelação, adeus
fantasmagoria católica. E traz à baila os três primeiros versículos
do capítulo 1 de Lucas: «Visto que muitos houve que empreenderam
urna narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram,
conforme nos transmitiram os que desde o principio foram deles
testemunhas oculares, e ministros da palavra, igualmente a mim me
pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua
origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em
urdem».

Pronto! Lucas antes de escrever obteve informações minuciosas de
tudo junto das testemunhas presenciais dos fatos sobre os quais se
dispõe escrever.

Pronto! Lucas foi, como Moisés ao escrever Gênesis, abeberar-se na
Tradição!

Pronto! O Evangelho segundo Lucas é simplesmente produto da
Tradição, a mais antiga, a mais completa Fonte de Revelação. A
própria Fonte da Bíblia!

Declaramos crer inteiramente que Lucas ao escrever os seus dois
livros,o Evangelho e os Atos dos Apóstolos, estava inspirado pelo
Espírito Santo de Deus. E nestas condições é que ele colheu e
selecionou a verdade no meio de tantos fatos e comentários
divulgados oralmente e por escrito em inúmeros apócrifos. Lucas,
divinamente inspirado, foi o garimpeiro que separou o ouro
puríssimo!

Pululavam apócrifos! Lucas resolveu descrever ao excelente Teófilo
os fatos conhecidos por ouvir da tradição oral para que ele tivesse
a certeza das coisas sobre as quais já estava informado. Deseja
Lucas que Teófilo e todos os demais se livrassem do risco de serem
ludibriados pela Tradição Oral.

<

Se não fossem as Escrituras não teríamos mais hoje a Revelação
Divina!

Porque o catolicismo fundamenta suas doutrinas na Tradição é que
evolui a sua teologia, surgem novos dogmas e sempre muda. O católico
de vinte anos passados desconhece o católico atual. Mesmo o de dois
anos atrás!

No seu arrazoado o teólogo da seita papal se lembra somente dos três
primeiros versículos do capitulo 1o de Lucas. Esquece-se do quarto
porque, concluindo o pensa­mento exarado nos versos anteriores, Lucas
reconhece ser desmoralizada e inconsistente a Tradição como Fonte de
Revelação. Ele escreveu para se ter certeza!

«PARA QUE TENHAS PLENA CERTEZA DAS VERDADES EM QUE FOSTE INSTRUÍDO».

Teófilo estava já informado de tudo por ouvir dizer. .A Tradição
Oral, todavia, não lhe dava certeza alguma. .E Lucas, divinamente
inspirado, resolveu escrever para lhe dar essa certeza.

Se a Tradição Oral dispõe do valor que lhe atribui o catolicismo,
por que escrever?

Lucas escreveu os seus livros na língua grega. No original desta
pericopes o vocábulo empregado é Asphaleia que quer dizer certeza,
segurança, firmeza, solidez.

<
firmissíma et solidissima», comenta Cornélio a Lápide em seu
Comentário das Sagradas Escrituras. Teófilo, o destinatário do
livro, já sabia por via oral e Lucas lhe escreveu para que o seu
conhecimento fosse certíssimo, firmíssimo, solidíssimo. Não confiava
na Tradição. Logicamente, a Tradição não pode ser fonte de
Revelação!

Para um exame do real significado do vocábulo as­phaleia é
interessante notar-se a sua posição significativa em outros textos.
Usa-o Lucas outra vez em Atos 5:23, em que, depois de relatar a
prisão dos Apóstolos decretada pelo sumo sacerdote e a libertação
miraculosa dás mesmos, transcreve-&-- explicação dos servidores:

«Achamos o cárcere fechado com toda a segurança (as­phaleia). Usa-o
Paulo em Fil. 3:1: ... e é segurança (asphaleia) para vós
outros...». Não bastava falar. Escrevia por medida de segurança.

Na forma asphales, emprega-o Lucas em Atos 21:34;22:30;25:26 e se
encontra em Hb. 6:19.

Na modalidade de verbo, é aplicado por Mt. quando se refere à
segurança da guarda do sepulcro de Jesus. «Ordena, pois, que o
sepulcro seja guardado com segurança (asphalistenai.) ... Disse-lhes
Pilatos: ai tendes uma escolta; ide e guardai como bem vos parecer
(As­phalisaste).

O próprio Lucas em Atos 16:24, contando a prisão de Paulo e Suas em
Filipos, ainda outra vez, aplica-o: «O qual (carcereiro), tendo
recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou
(esphalisato) os pés no tronco.

Na forma de advérbio, no mesmo relato, Lucas, com ênfase
informa: «e, depois de lhes (Paulo e Suas) darem muitos açoites, os
lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com
toda a segurança

— seguramente (asphalós). Ainda Lucas, ao transcrever o sermão de
Pedro no dia de Pentecostes, aplica-o: «Esteja pois absolutamente
certa — segura — (as­plialós) toda a casa de Israel de que a este
Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo» (At. 2:36).

O advérbio Asphalós é empregado por Mc. 14:14 ao anotar a
recomendação do Iscariotes: «Aquele a quem eu beijar, é esse;
prendei-o, e levai-o com segurança (seguramente).

De todas estas observações é evidente, é lógico, é patente
ressaltar, em conseqüência, que Lucas escreveu o seu Evangelho para
firmar seguramente a Revelação de Jesus Cristo, demonstrando,
outrossim, ser muito deficiente e falho o conhecimento através do
ouvir dizer.

De quantos 1ivros, se compõe o Novo Testamento?

Vinte e sete!

E destes, com certeza, treze foram escritos pelo Após­tolo Paulo. E
cinco pelo Apóstolo João.

Por João, o Apóstolo Amado de Jesus, chamado a testificar dËle
porquanto com Ele estivera desde o princípio (Jo. 15:27), que, no
final do Quarto Evangelho disse, referindo-se aos sinais de
Jesus: «Estes, porém foram registrados para que creais que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu
Nome».

(Jo. 20:31).

Pelo Apóstolo João que, na sua Primeira Epístola destinada aos já
conhecedores do Evangelho de sua lavra, dirigida às mesmas igrejas,
porquanto a simples leitura de ambos os documentos demonstra ser
essa Primeira Epistola um suplemento daquele, declara: «O que era
desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os
nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos
apalparam, com respeito ao Verbo da Vida.., o que temos visto e
ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente
mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com
o Seu Filho Jesus Cristo. ESTAS COISAS, POIS, VOS ESCREVEMOS PARA
QUE A NOSSA ALEGRIA SEJA COMPLETA» (1 Jo. 1:1,3,4). João, testemunha
ocular! Observe-se a sua insistência em destacar esta
particularidade notável: o que ouviu, o que viu com os seus olhos, o
que contemplou e as suas mãos tocaram... Todo êste martelar contra
qualquer pretensa Tradição apenas no primeiro verso do capítulo
primeiro de sua Primeira Carta. E a seguir, após um parêntesis no
verso 2, torna a insistir: «o que temos visto e ouvido... » Tudo o
que ele escreveu foi presenciado e ouvido por ele! Não foi colher
dados e informações com ninguém!

Dos vinte e sete livros do Novo Testamento cinco procedem da pena
divinamente inspirada do Apóstolo João.

Do Apóstolo João que leva a morder o pó da inutilidade o arrazoado
balofo do catolicismo em prol de uma Tradição Oral como regra de fé
mais importante do que a Bíblia por ser-lhe anterior e sua própria
fonte.

Do Apóstolo João que, ao encerrar o seu Livro Apocalíptico,
escangalha com a presunção católica porque estampa, por escrito,
esta advertência de Jesus Cristo:

«EU, A TODO AQIYÊLE QUE OUVE AS PALAVRAS DA PROFECIA DËSTE LIVRO,
TESTIFICO: SE AL­GUËM LHES FIZER QUALQUER ACRËSCIMO, DEUS LHE
ACRESCENTARÁ OS FLAGELOS ESCRITOS NESTE LIVRO; E SE ALGUËM TIRAR
QUALQUER COUSA DAS PALAVRAS DO LIVRO DESTA PROFE­CIA, DEUS TIRARÁ A
SUA PARTE DA ÁRVORE DA VIDA, DA CIDADE SANTA, E DAS COUSAS QUE SE
ACHAM ESCRITAS NESTE LIVRO». (Apoc. 22:18-19).



ENFIM, O ÚLTIMO SOFISMA...

Se os dois argumentos expendidos pela dogmática católica em abono de
sua Tradição são caquéticos, o terceiro e último é o acervo de todas
as nuances da malicia. Ë um sofisma sintomático da mais deslavada
irresponsabilidade.

Firmada no carunchado segundo argumento alega que, por não haver
Cristo e nem os Seus discípulos escrito ou mandado escrever (?!)
isso mesmo demonstra ~ existência de muitas doutrinas transmitidas
apenas oral-mente, as quais devem ser aceitas como reveladas.

Ora! Vejam só! Nem de leve o catolicismo irá encontrar nas palavras
de Jesus alguma coisa que lhe possa endossar a presunção. Aliás, bem
ao contrário, porquanto Jesus foi severo no combate à
Tradição. ..... invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa
Tradição» (Mt. 15:6), recriminava Ele aos fariseus. E nessa única
vez que o Senhor fala sobre a Tradição, vergastando-a lembra: «E em
vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens*~
(Mt. 15:9).

Desesperada por não encontrar nada nos Evangelhos que lhe pudesse,
ao menos de longe, fornecer arremedo de argumento, no intuito de
corroborar o seu raciocínio, a dogmática católica apresenta esta
passagem bíblica extraída de Paulo: Assim, pois, Irmãos, permanecei
firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por
palavra, seja por epístola nossa (2 Tes. 2:15). Os Apóstolos,
conclui, não nos transmitiram tudo por escrito; uma grande parte do
seu ensino foi oral que nos chegou pela Tradição através dos
séculos.

Ao objetivo católico nesta Escritura saltam à vista os embargos.

O significado do vocábulo «tradições» nesse texto não é sinônimo da
Tradição no conceito católico. Lá no original grego, o termo é
paradoseis que tem o significado de doutrina ou ensinamentos para o
caso. Paradoseis é o conjunto das doutrinas ou o depósito exposto
por Paulo aos fiéis. Este depósito que ele não recebeu de nenhum dos
Doze e de ninguém, mas diretamente de Jesus Cristo (Gal. 1:9,11 e
12).

Paulo, portanto, depois de prevenir os tessalonicenses contra os
deturpadores do Evangelho, inculca-lhes a necessidade de se manterem
firmes nas doutrinas por ele ensinadas através também das suas
pregações.

Ainda mais. O próprio texto ressalta a sintonia entre a pregação e a
escrita das doutrinas ensinadas pelo mesmo Apóstolo. De maneira
alguma ele sugere apoio a ensinamentos alheios ou diversos das
Escrituras.

E de se levar em conta, outrossim, que esta Segunda Carta aos
tessalonicenses é o segundo documento de Paulo, escrito logo após à
Primeira Carta aos mesmos destinatários, datada do ano 50 ou 51. Ë
evidente, pois, que, no afã de preveni-los da «operação do erro>> (2
Tes. 2:11), o Apóstolo se reporte às doutrinas que oralmente ele
havia ensinado quando de sua atribulada estada em Tassalónica
porque «os judeus desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo
alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo,
alvoroçaram a cidade... » (Atos 17:5).

Seu curto ministério nessa localidade, porém, permitiu-lhe disputar
numa sinagoga dos judeus sobre as Escrituras, pelo que alguns deles
creram e se organizaram em igreja (Atos 17:1-4; e 2 Tes. 1:1).

Ao se referir Paulo aos seus ensinamentos por pa­lavra não quer isto
dizer que se constituíam eles em ensinamentos diferentes dos
escritos em suas cartas. Tanto assim que, desejando prevenir os
crentes contra as investidas de Satanás, adverte
energicamente: «caso alguém não preste obediência à nossa palavra
dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que
fique envergonhado» (2 Tes. 3:14)

Dos seus treze documentos, as duas pequenas Cartas à Igreja de
Tessalônica são os dois primeiros. Evidentemente que, ao se referir
às doutrinas que por palavra havia ensinado lá, não demonstra ser a
Tradição Oral Fonte de Revelação como querem os teólogos católicos.

Acresce outra observação de máximo destaque é que Paulo, como
Apóstolo, era órgão oficial, divinamente inspirado, da Revelação
Bíblica que durou até a morte de João, o Apóstolo. Por conseguinte e
não implicando isto que sua pregação oral era diversa de sua
pregação nas epístolas, pelo fato de ser a pregação de Paulo
instrumento da Revelação de Deus aos homens, não se há de concluir
que outros gozem desta mesma missão e sua palavra também seja
inspirada até quando expõem dou­trinas contrárias às Escrituras.

O catolicismo aprecia sobremaneira retirar um versículo do seu
contexto e encaixá-lo a muque no cenário das suas heresias. E, como
sempre, desta vez também falhou o seu arrazoado.

Insiste, porém, a dogmática católica e, no apogeu de seus
estertores, vai buscar outro texto escriturístico no anseio de
coonestar a sua Tradição. E arroga, como defesa desta sua falida
fonte de doutrinas, as recomendações de Paulo a Timóteo: .. . sei em
quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o
meu depósito até aquele dia. Mantém o padrão das sãs palavras que de
mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o
bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós» (2 Tim.
1:12-14).

Nesta pericope encontramos duas vezes menciona­do o vocábulo
depósito. A primeira no verso 12, onde significa a confiança do
Apóstolo em Deus, que não falta em suas promessas. Todos os seus
trabalhos, todos os seus sofrimentos culminados agora em sua prisão
em Roma nas vésperas de sua morte, se constituíram num riquíssimo
depósito entregue nas mãos do Senhor, como num maravilhoso
relicário, donde esplenderiam todos os seus galardões, como de uma
fonte inexaurível. A segunda no verso 14. Para qualquer leitor
desprovido de preconceitos, esta passagem bíblica no panorama das
relações de Paulo com Timóteo, salienta o cuidado especialíssimo do
Apóstolo em preservar o depósito (parathéke) isento de macular-se
com as fãbulas e doutrinas vãs.

O Apóstolo teve de enfrentar aguerridas lutas contra os «falsos
irmãos>> (Gál. 2:4), os judaizantes que per­turbavam os crentes com
palavras e transtornavam as suas almas (Atos 15:24) porque
deturpavam a pureza do Evangelho imiscuindo-lhe doutrinas espúrias.
Além, pois, de missionário entre os gentios, Paulo teve de sustentar
essa batalha imensa para o que contou com a cooperação pronta e
eficaz de Timóteo, do qual davam bom testemunho os irmãos (Atos
16:2).

O vocábulo grego parathéke empregado por Paulo é de alta
significação por ser, no seu tempo, um termo técnico da linguagem
jurídica entre gregos, romanos e judeus. Parathéke, depósito,
indicava um tesouro valioso confiado pelo seu proprietário à guarda
de um amigo de irrestrita confiança, que se obrigava a guardá-lo e a
restitui-lo, não lhe sendo licito, ainda, uti1izar-se dele em
proveito pessoal ou na conformidade do seu bel-prazer. Severas
penas, outrossim, se impunham aos que violas­sem as normas da
absoluta fidelidade exigidas nesse caso do parathéke ou depósito.

Pois bem! Paulo escrevendo ao seu caríssimo Timóteo exorta-o à
fidelidade na guarda desse parathéke divino, que é a doutrina do
Evangelho não permitindo, em hipótese alguma, fosse eivada de
retoques, desvios ou fãbulas.

Certa ocasião, enquanto foi à Macedônia, Timóteo permaneceu em Éfeso
para advertir alguns que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem
com fãbulas e genealogias sem fim, (1 Tim. 1:34).

Além de preservar o «bom depósito», o parathéke, nesta emergência,
competia a Timóteo a habilidade de selecionar homens capazes e
firmes na fé, aptos para ensinar.

"... aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino». (1 Tim. 4:13).

(Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. (1 Tim.4:16).

Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, tem horror aos
clamores vãos e profanos e às obrigações da falsamente chamada
ciência; a qual professando-a alguns, se desviaram da fé (1 Tim.
6:20 e 21).

...Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em
nós (2 Tim. 1:14).

Lembra a Timóteo em sua Primeira Carta de que, nos últimos tempos,
alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a
ensinos de demônios (1 Tim. 4:1); suplica-lhe que rejeite «as
fábulas profa­nas e de velhinhas caducas» (1 Tim. 4:7): assemelha a
Janes e Jambres que resistiram a Moisés os que resistem à verdade,
sendo (homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto a fé (2
Tim. 3:8); recomenda-lhe que persistisse em ler (1 Tim. 4:13); e
agora, nas vésperas de sua morte em Roma, donde remetera esta Carta
a Timóteo, concita-o: «Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste,
e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que desde
a infância sabes as Sagradas Letras que podem tornar-te sábio para a
salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por
Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para
a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra>> (2 Tini. 3:14-16).

Todas estas recomendações de Paulo visavam exata­mente preservar a
pureza do Evangelho, a genuinidade da doutrina, a fidelidade na
guarda do «bom depósito», parathéke, contra a intromissão de
ensinamentos espúrios por parte dos judaizantes insubordinados e
impostores, bem como de outros inovadores e corruptores.

Os textos que a dogmática católica arrola em defesa de sua Tradição
militam desfavoráveis à sua pretensão de corromper a limpidez do
<
consoante advertência do mesmo Apóstolo aos falsos irmãos, quando
escreveu aos gálatas: <<... se alguém vos prega evangelho que vá
além daquele que recebestes, seja anátema (Gál. 1:9).

Nem em nome de uma outra pretensa e utópica fonte de revelação
extrabíblica, pode-se acrescentar ou re­tirar nada às Sagradas
Escrituras a menos que se queira incorrer no desagrado do Senhor
como acontece à dogmática católica, pervertedora da Revelação
Divina.

É de se pasmar que quase toda a teologia clerical esteja lastreada
sobre essa base de areia movediça. É um castelo de cartas que, com
um sopro, se derruba, mas, vem, através dos séculos, se constituindo
na arma mais eficaz do inferno para desviar as almas de Jesus
Cristo, O nosso Único e Todo-Suficiente Salvador.

(extraído do livro: O Vaticano - Ed. Caminho de Damasco)

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